Daniel Lima, assessor do Cimi, relembrou o encontro com o papa Francisco no Sínodo da Amazônia, em 2019, e destacou o legado do pontífice na defesa dos povos tradicionais e na preservação da Amazônia, ressaltando gestos como a simplicidade e o acolhimento aos povos originários. Daniel Lima com o papa Francisco durante o Sínodo da Amazônia, em 2019.
Arquivo pessoal
Um dos momentos mais marcantes da trajetória de fé e da vida de Daniel Lima, assessor do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e morador de Lábrea, foi o encontro com o papa Francisco durante o Sínodo da Amazônia, em 2019, no Vaticano.
Em entrevista ao g1, o missionário relembra o impacto do pontífice na defesa dos povos tradicionais e pela preservação da Amazônia. Francisco, que morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) seguido de falência cardíaca, deixou um legado de acolhimento e valorização dos povos originários.
"Francisco sempre colocou os povos originários no centro das discussões", afirma Daniel, que teve a oportunidade de se encontrar com o pontífice durante o Sínodo da Amazônia, em 2019.
Lima relembrou com carinho o momento histórico em que teve a chance de representar os povos da Amazônia e debater diretamente com líderes religiosos e indígenas sobre questões essenciais para a região. Para ele, a morte de Francisco marca o fim de um pontificado que, por meio de gestos simbólicos e ações concretas, levou a voz dos povos da floresta até o Vaticano.
Durante seu pontificado, o papa Francisco teve um forte compromisso com a Amazônia, destacando a importância do bioma para o planeta. Em outubro de 2019, ele convocou um Sínodo especial para discutir os desafios enfrentados pela região e a evangelização.
O evento reuniu bispos e representantes de toda a Pan-Amazônia e se tornou um dos momentos mais importantes de seu papado, com foco na defesa do meio ambiente e dos povos tradicionais.
📲 Participe do canal do g1 AM no WhatsApp
Assessor do Cimi, entidade ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Daniel descreve o encontro com o papa como um marco importante para a Igreja e para os povos da Amazônia. Durante o Sínodo, Francisco se mostrou acessível e atento às preocupações dos líderes indígenas e comunidades tradicionais.
"Foi um momento histórico para a Igreja na Amazônia e também para os povos tradicionais. Estavam ali bispos, lideranças indígenas, quilombolas e representantes de comunidades de toda a Pan-Amazônia", lembrou Daniel.
Papa Francisco conversa missionário durante o Sínodo da Amazônia, em 2019
Arquivo pessoal
O missionário também destacou com carinho a convivência com Francisco, que se mostrou acessível e simples durante todo o evento.
"Ele se aproximava das rodas de conversa, conversava com todos, tratava todos como iguais. Ele transformou o mundo numa paróquia, cuidando de todos como um pai cuida da família", disse.
A conversa entre Daniel e o papa aconteceu logo nos primeiros dias do Sínodo. Segundo o missionário, um dos temas foi a presença feminina na Igreja, com destaque para Maria Madalena, a quem o papa reconheceu como símbolo de protagonismo e fé.
Outro assunto lembrado foi a escolha de Francisco em manter a cruz simples que usava antes de se tornar papa, como sinal de humildade e proximidade com o povo.
"Ele poderia ter escolhido uma cruz de ouro, mas manteve a que já usava como bispo. Quando perguntaram o motivo, ele respondeu com algo que me marcou muito: que o pastor precisa ter cheiro de ovelha — e ele realmente vivia isso", relembrou o missionário.
LEIA TAMBÉM:
Arcebispo de Manaus está entre os brasileiros que vão participar do Conclave
Papa vestiu roupas confeccionadas por amazonense durante cerimônia no Vaticano; relembre o momento
Francisco: o papa que olhou para a Amazônia e seus ribeirinhos
Católico e admirador do pontífice desde o início do pontificado, Daniel diz que viver essa experiência foi “quase inarrável”.
“Desde 2013, quando ele foi eleito, eu já acompanhava com admiração. Quando escolheu o nome Francisco, pensei: vai ser um pontificado diferente. E foi. Ele se inspirava em São Francisco de Assis. Participar desse momento e ter esse contato direto foi muito emocionante", pontuou.
Sobre o legado de Francisco, o missionário afirma que o papa plantou sementes importantes, principalmente em relação aos povos indígenas.
"Ele foi o primeiro papa a reconhecer os erros históricos da Igreja contra os povos indígenas e a pedir perdão pelos abusos cometidos contra os povos originários em nome da fé cristã. Trouxe os indígenas para o centro das discussões, reconheceu sua importância e ouviu suas vozes. Isso é histórico".
Por fim, Daniel espera que o sucessor do papa Francisco dê continuidade ao caminho iniciado por ele.
“Espero que o próximo papa cuide da semente que Francisco plantou. Ele estava dando continuidade às reformas iniciadas no Concílio Vaticano II. Que esse caminho continue sendo trilhado", concluiu.
Como lembrança daquele encontro inesquecível, Daniel guarda até hoje uma moeda com o brasão do pontificado de Francisco, entregue pelo próprio papa a todos os participantes no último dia do Sínodo.
Daniel Lima recebeu do papa Francisco uma moeda com o brasão do pontificado, símbolo do legado da Igreja na Amazônia.
Arquivo pessoal
Daniel Lima com o papa Francisco durante o Sínodo da Amazônia, em 2019
Arquivo pessoal
Papa Francisco pede respeito aos indígenas ao encerrar Sínodo da Amazônia