Daniele Batista revela como o diagnóstico de autismo e TDAH dos filhos transformou sua vida e a fez abrir mão de sonhos e projetos pessoais para ser suporte integral na rotina dos meninos. No retrato de um amor que renuncia para cuidar, Daniele Batista posa ao lado dos filhos Yan Gabriel e Uriel, sua maior motivação
Gleilson Nascimento / g1
No Dia das Mães, histórias de amor incondicional ganham ainda mais força, principalmente quando se trata de mães que abriram mão dos seus sonhos para garantir qualidade de vida e desenvolvimento para os filhos.
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Daniele Batista, 37 anos, é uma dessas mulheres. Mãe do Yan Gabriel Batista Cunha de 9 anos, e do Uriel Batista Cunha, de 6, ambos diagnosticados com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e Transtorno do Espectro Autista (TEA), ela deixou o emprego, os estudos e os projetos de crescimento profissional para se dedicar integralmente ao cuidado dos filhos.
Daniele era atendente de consultório médico e estava prestes a iniciar uma pós-graduação quando a vida tomou um novo rumo. Os diagnósticos vieram em momentos diferentes e abalaram as estruturas emocionais da família.
“Você idealiza uma coisa e de repente tudo escorre pelos dedos como água. Levei uma rasteira da vida”, relembra. “Foi quando eu precisei buscar apoio psicológico. Antes de ajudar meus filhos, eu precisava me reconectar comigo mesma.”
Ela fala abertamente sobre o impacto emocional da descoberta. “O diagnóstico nunca é fácil. A gente se culpa, se questiona o tempo todo. Mas a verdade é que temos dois caminhos: ou ficamos presas à culpa ou seguimos em frente. Escolhi caminhar, estudar, entender e ser o suporte que meus filhos precisam.”
A decisão de deixar o trabalho e cuidar em tempo integral dos filhos veio acompanhada de desafios financeiros. O marido de Daniele precisou assumir duas jornadas de trabalho para garantir a estabilidade da casa, enquanto ela cuida da rotina dos meninos, que vai de terapias a refeições cuidadosamente adaptadas para cada um.
“Uriel só aceita arroz com o caldo peneirado da carne, não pode ter nenhum pedacinho. Já o Ian evoluiu mais na alimentação, come arroz, feijão, carne picada. Mas cada detalhe exige atenção, paciência e muito amor”, relata.
Mesmo com o apoio de familiares — especialmente da mãe e de irmãos, Daniele diz que a rede de suporte é limitada.
“Minha mãe me ajudou muito no início, mas depois ela mesma teve problemas de saúde. Hoje, meu suporte é reduzido. Por isso, voltar a estudar ou trabalhar fora de casa está fora de cogitação no momento.”
Tanto Ian quanto Uriel têm diagnóstico de autismo nível 2, o que significa que necessitam de apoio substancial no dia a dia.
“Eles não conseguem, por exemplo, amarrar o cadarço do sapato, algo simples para outras crianças. O Uriel, de 6 anos, ainda não fala, apenas balbucia algumas palavras. Então há necessidade de acompanhamento contínuo com fonoaudiólogos, terapeutas e psicólogos.”
A rotina de Daniele começa cedo e vai até o último suspiro de energia do dia.
“Quando eles vão pra escola, é o único momento em que respiro, faço uma caminhada ou uma aula de pilates, algo pra cuidar de mim. Porque cuidar de si é essencial para continuar cuidando do outro.”
Sonhos em pausa
“Hoje, vivo os sonhos do presente. Os sonhos de amanhã, eu deixei numa prateleira. Sonhava com um cargo melhor, com uma pós-graduação. Tudo isso eu precisei adiar. Mas entendo que meu papel agora é outro, é estar com eles, guiando, apoiando, sendo o porto seguro.”
Mesmo com as dificuldades, ela não reclama. Pelo contrário, sua fala é embebida de gratidão e fé.
“Eu oro muito, peço a Deus sabedoria e discernimento. Principalmente nos dias em que tudo sai do controle, porque sair da rotina para uma criança com TEA é muito desafiador.”
Mensagem para outras mães
No Dia das Mães, Daniele deixa um recado para outras mulheres que estão no início dessa jornada, lidando com diagnósticos recentes e com a avalanche de sentimentos que vêm junto.
“Não se culpem. Nenhuma mãe quer se vitimizar. A culpa aparece, mas precisa ser enfrentada. O mais importante é entender que nossos filhos precisam de nós para evoluir e o amor é a chave. Procurem ajuda, façam terapia se possível. E não se esqueçam de que vocês são mais fortes do que imaginam.”
Entre panelas e cuidados, Daniele Batista encontra na cozinha mais do que uma rotina, um gesto diário de amor
Gleilson Nascimento / g1
Daniele acompanha cada detalhe das refeições dos filhos, Yan Gabriel e Uriel, adaptadas com carinho às necessidades de cada um
Gleilson Nascimento / g1