Livro do Apocalipse faz parte do Novo Testamento e foi escrito por João no século 1. Usado para tentar explicar desastres ao longo da história, passagem na verdade faz crítica a imperador romano. Papa Leão XIV acena ao público em sua primeira aparição no Vaticano
Guglielmo Mangiapane/Reuters
Após o anúncio nesta quinta-feira (8) do nome do americano Robert Francis Prevost como o novo papa, começaram a pipocar nas redes sociais menções ao Apocalipse 13, último livro da Bíblia, conhecido como o "livro da revelação".
“Profecia de Apocalipse 13 se cumprindo”, publicou um usuário do X.
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Afinal, o que é o Apocalipse 13?
O capítulo 13 do Apocalipse faz parte do Novo Testamento e foi escrito por João no século 1. Ele menciona duas bestas: uma que emerge do mar e outra que emerge da terra.
📜“ E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a boca de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio”.
É neste livro que é citado o número 666, conhecido como “o número da besta”: "Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é 666”.
Kenner Terra, pastor, doutor em ciências da religião pela Universidade Metodista de São Paulo, professor na Faculdade Instituto Rio de Janeiro (Fiurj) e autor de “O Apocalipse de João: caos, cosmos e o contradiscurso apocalíptico”, explica por que o texto ficou conhecido como fonte para o conceito do "anticristo".
“É porque no capítulo 13 fala de uma figura que sai do mar com características de poder político e com uma relação com outra figura, que sai da terra, que tem poder religioso, que é o falso profeta".
E o que isso tem a ver com os Estados Unidos e com o papa?
Desde a Reforma Protestante, em alguns momentos da história, o papa é tratado como o “anticristo” ou como o falso profeta, explica Kenner. Além disso, há uma interpretação de que a besta que sai do mar é um líder político que dominará o mundo durante um período.
“Os Estados Unidos entram nessa equação nas narrativas triunfalistas de filmes e obras como ‘Deixados Para Trás’”. Este é um livro que virou filme e conta a história de um grupo de pessoas tentando sobreviver ao fim do mundo.
🤯 Na visão conspiracionista, quando essas duas figuras se unem, acontece o fim dos tempos.
🦁 Nas redes sociais, os conspiracionistas também fazem referência ao trecho que diz que a besta tem “boca de leão”. Prevost escolheu o nome de Leão XIV. E ele sucede Leão 13, número do capítulo do apocalipse.
"Toda teoria da conspiração conecta numa narrativa de forma aparentemente óbvia uma imagem completamente sem sentido. É assim que as teorias da conspiração funcionam. Então, pega, o nome Leão, o número 13, o papa, e aí começam as invencionices, que para mim são muito perversas, perigosas e alienadoras”.
E o que o trecho quer dizer na verdade?
Kenner Terra explica que, na verdade, o texto de João sobre as bestas é uma crítica contra o imperador romano Nero Cesar.
“No Apocalipse 13, o visionário que chama-se João faz uma crítica a um imperador romano. Como ele faz essa crítica? Ele vai usar as imagens do seu tempo. E tem um livro chamado Daniel, do Antigo Testamento. E o livro de Daniel, em um determinado momento, ele fala de quatro monstros. Quatro feras. Leopardo, leão, águia, urso, entende?”
Kenner explica que, assim, João usou as mesmas alegorias de Daniel para fazer uma crítica a uma figura horrenda.
Conhecido como o "livro da revelação", o Apocalipse também já foi usado ao longo da história para tentar explicar desastres que vão da peste ao aquecimento global, passando pelo acidente nuclear de Chernobyl.
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